“No
início, as conversas eram ligeiras e circunstanciais, assim como os nossos
encontros eram dispersos e ocasionais”. Lembraste desses tempos, quando falávamos dos sumos de limão que
bebíamos em jejum, na primeira hora da aurora, e das trocas dos nossos relatos
opinativos sobre artefactos museológicos que contemplávamos das nossas visitas
a exposições temáticas? De lá a esta parte, já se passaram pelo menos meia dúzia de anos, não?!
Já sei, estou a desviar-me do assunto.
Já sei, sou uma peste e tudo isso…Sei que estou em falta contigo, já sei. Fiquei
de te devolver correspondência, e não o fiz! Mas olha, não foi por falta de
vontade, ou de oportunidade. Simplesmente não quis deixar o teu coração em
cuidado em vésperas da tua ida, mais uma vez, para terras além-mar. Se te
falasse, irias ler nas minhas falas, um estado de apreensão e de preocupação; achei então por bem remeter-me ao silêncio. Bem sabes que quando me escondo por
detrás da carapaça, não respondo a estímulo nenhum provocado do exterior. Ai se
soubesses, o impacto que o teu último poema teve, sobre mim!
"(...)
Cega é a ausência do teu toque
E negra a distância que nos separa."
E o que me custou
mostrar-me indiferente ao teu desnudar da alma…Toda eu, me desfiz em lágrimas
no travesseiro da madrugada, quando o sono tomou de assalto as gentes da minha morada.
Mas de nada me adianta agora chorar sobre o leite
derramado. Mais uma vez, sei que estou fora de tempo. Mas olha, não te
preocupes, agora sei que está tudo bem comigo. Já diz o velho ditado, que após
a tempestade vem a bonança, e, aqui estou eu a dar sinal de mim, quando te sei longe,
incomunicável, e irado comigo…Mas não faz mal, eu relevo-me por ti, faço a
festa, lanço os foguetes e apanho as canas.
No meio de tantos desencontros e de mais um
silêncio interposto, sabes o que me conforta? É saber-te do outro lado do
mundo, com a melhor metade de mim, aí, contigo. É nesta espera eterna e constante,
de saudade dolorosa, que me alimento de ti, que te vivo e que te respiro. É
nesta dor que te sei só meu e que perpétuo o meu amor mais puro e genuíno.
Pois então, cá estou eu, mais uma vez a rezar um monólogo.
Mas de facto tal facto resume-se ao princípio da contradição, que tem sobre mim
o maravilhoso efeito terapêutico de purga afectiva.
Resumido e baralhando, até ao teu regresso, pouco ou nada mais me resta,
senão falar-me de ti, e de ti, e de ti...