sábado, 9 de setembro de 2017

...


Divirto-me imenso com a tua atitude de tesão que se acha o ex-líbris da perfeição. Provavelmente, na tua ideia de ser iluminado, achas que envergas a silhueta de uma escultura grega. Pobre pensar o teu, inversamente proporcional à verdadeira ordem da tua grandeza, e olha que estou a ser bastante generosa, tendo em conta que o verbo subestimar não integra as boas práticas da minha gramática.
Agora, um dia que tenhas coragem de olhar para o meu eu mais profundo, tem cuidado, ou levas umas asas para levantar voo, ou bem que morres afogado.

Só me amas quando estou longe...
O teu ódio queima-me quando te aproximas.



quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Emudeci



Sempre esperei ver-me à mercê da mudez, não do encarceramento de palavras, mas do meu emudecimento perante a beleza das tuas falas bem faladas junto ao meu coração.
Desenhaste-me um poema num grão de areia, ofertado na pétala de uma rosa vermelha, e, claro está, emudeci! Quero retribuir-me e não consigo, de me ver assim, intrincada num redemoinho de emoções, onde o grito e as palavras mais bonitas, as que tenho guardadas só para ti debaixo da pele, no silêncio do mais profundo oceano, ficam muito aquém do turbilhão de sentimentos em que me depus após o teu olhar ter mergulhado no meu (a)mar.
Mas aqui, do lado oposto da encosta, permito-me confidenciar-te tamanha inconfidência.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Viagem


“No início, as conversas eram ligeiras e circunstanciais, assim como os nossos encontros eram dispersos e ocasionais”. Lembraste desses tempos, quando falávamos dos sumos de limão que bebíamos em jejum, na primeira hora da aurora, e das trocas dos nossos relatos opinativos sobre artefactos museológicos que contemplávamos das nossas visitas a exposições temáticas? De lá a esta parte, já se passaram pelo menos meia dúzia de anos, não?!
Já sei, estou a desviar-me do assunto. Já sei, sou uma peste e tudo isso…Sei que estou em falta contigo, já sei. Fiquei de te devolver correspondência, e não o fiz! Mas olha, não foi por falta de vontade, ou de oportunidade. Simplesmente não quis deixar o teu coração em cuidado em vésperas da tua ida, mais uma vez, para terras além-mar. Se te falasse, irias ler nas minhas falas, um estado de apreensão e de preocupação; achei então por bem remeter-me ao silêncio. Bem sabes que quando me escondo por detrás da carapaça, não respondo a estímulo nenhum provocado do exterior. Ai se soubesses, o impacto que o teu último poema teve, sobre mim! 
"(...)
Cega é a ausência do teu toque
E negra a distância que nos separa."
E o que me custou mostrar-me indiferente ao teu desnudar da alma…Toda eu, me desfiz em lágrimas no travesseiro da madrugada, quando o sono tomou de assalto as gentes da minha morada.
Mas de nada me adianta agora chorar sobre o leite derramado. Mais uma vez, sei que estou fora de tempo. Mas olha, não te preocupes, agora sei que está tudo bem comigo. Já diz o velho ditado, que após a tempestade vem a bonança, e, aqui estou eu a dar sinal de mim, quando te sei longe, incomunicável, e irado comigo…Mas não faz mal, eu relevo-me por ti, faço a festa, lanço os foguetes e apanho as canas.
No meio de tantos desencontros e de mais um silêncio interposto, sabes o que me conforta? É saber-te do outro lado do mundo, com a melhor metade de mim, aí, contigo. É nesta espera eterna e constante, de saudade dolorosa, que me alimento de ti, que te vivo e que te respiro. É nesta dor que te sei só meu e que perpétuo o meu amor mais puro e genuíno.
Pois então, cá estou eu, mais uma vez a rezar um monólogo. Mas de facto tal facto resume-se ao princípio da contradição, que tem sobre mim o maravilhoso efeito terapêutico de purga afectiva.
Resumido e baralhando, até ao teu regresso, pouco ou nada mais me resta, senão falar-me de ti, e de ti, e de ti...

domingo, 2 de abril de 2017

Correspondência

Um destes dias, ou seja, numa destas noites, durante a prática do sofá – terapia, enquanto corria todos os canais da TV, tropecei neste filme, "Correspondence". Qual o meu espanto, constatei que ali reside mais um espelho intemporal que reflecte estórias de amor que se perpetuam no tempo, pelo tempo e ao longo do tempo para além do tempo.


Das cartas trocadas entre Ofélia Queiroz e Fenando Pessoas, ao mesmo tipo de correspondência trocada informaticamente, pelo Ed. o Feiticeiro e pela Amy, a Camicase, neste registo cinematográfico, consigo rever fragmentos do nosso testemunho, ora pela idade de ambos os intervenientes, ora pelo conteúdo material do respetivo enredo afectivo...


Se por um lado esboço um sorriso, por ter o privilégio de viver “momentos” únicos, bonitos e genuínos, por outro lado aninho arredia a este caminho que inflige uma dor aguda que se exige muda. Não nos é permitido gritar nem exteriorizar a dor da saudade e da ausência. 
O percurso faz-se duro, de olhos postos no céu e no mar, para amortecer a dor da falta da presença de quem não nos pertence de facto nem de direito, e para nos conferir uma réstia de esperança, que se guarda sempre debaixo da asa, de que um dia o impossível acontecerá.

Agruras à parte, deixo-te aqui mais um dos meus delírios afectivos.

Eu sei que um dia vou passear contigo de mãos dadas pela rua aos olhos do mundo, a rir, a sorrir e a gargalhar, em plena alegria, só por estarmos ali, eu e tu, finalmente juntos.
Iremos ao parque da cidade, correr, rebolar na relva, andar no carrossel, gritar na montanha russa e encher a barriga de pipocas e nuvens de algodão doce, que nem dois adolescentes enfeitiçados. No fim do dia daremos aquela caminhada pela praia, com os pés descalços na areia molhada, de olhos postos no pôr-do-sol, a ouvir a canção do mar, e, quando o manto de estrelas nos aconchegar, encostarei a cabeça no teu peito para me deixar dormir no embalo do compasso do teu coração, até a aurora despertar.

Eu sei que esse dia, um dia vai-nos chegar.

Espero-te bem.
Saudades!

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Ela
























Ela e eu, eu e ela,
as faces opostas da mesma moeda.
Ela traja o rigor da indumentária vertical do dia-a-dia,
numa mão carrega o equilíbrio
e na outra a simetria.
Mas de vez quando esconde no bolso
o tempo de que não dispõe para me dar.
Hoje, resto-me rasto dos restos que ela deixou cair por terra.
Saudade de qual afecto, cujo sabor há muito lhe secou na boca.
Desencantou-se, desapaixonou-se, desacreditou-se,
e ultimamente quando olha para mim,
lança-me aquele olhar fulminante,
de quem urge matar por fome e sede.
Básicos instintos pelo quais apraz matar…
Tenho cá para mim, que em breve, ela vai vestir a minha pele.
“Caramba Rapariga,
estás mesmo precisada
de te entregar
de olhos fechados à minha cegueira.
Ou morres, ou matas.
Qual grão de amor, qual carapuça.
Sacode a poeira das asas, lança-te ao voo e deixa-te de merdas!”

sábado, 7 de janeiro de 2017

Quase...


Tu quase me foste.
Eu quase te fui.
Nós quase nos fomos…
Quase…
Talvez amanhã,
quiçá!