quinta-feira, 2 de junho de 2016

Mas não posso!

                       

Gostava de poder dizer que não existes, que és fruto da minha fértil imaginação, mas não posso.
Gostava de poder dizer que não te conheço, que nunca atravessaste o meu caminho afectivo, mas não posso.
Gostava até de poder dizer que não te penso, que não sinto a tua falta, nem que não te tenho entranhado na veia do meu desassossego, mas não posso.
Gosta de ter todo esse poder, mas ainda não consegui atingir o auge desse momento áureo, o de te fazer passar à história na minha sádica memória, como se tivesse sido abatida por um ataque de amnésia vitalício.
Agora digo-te, se eu fosse dona do meu sentir, há muito que te tinha banido do meu artefacto bicho-do-mato. Lamentavelmente esse meu feito permanece adiado por tempo indeterminado. 
Para mal do meus pecados, continuo a ficar irada e destemperada quando me ignoras por vingança e retaliação, principalmente quando sei que estás mesmo ali, disponível, para o demais "inferno feminino".
Tantas me hás-de fazer que um dia vens e eu já estou bem longe, a anos luz de ti.
Sabes meu querido, há pianos de cauda muito bonitos, mas quando desafinados, já não valem a pena serem tocados.

4 comentários:

  1. Há pessoas que demoram mesmo quando chegam cedo...

    Um beijinho, Maria Flor

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  2. :), pois é Miss Smile.
    Estes relógios ainda não foram inventados. Mas certo é que os planos invertidos, ou paralelos, tentam oscilar com vista a respetiva interseção, mas sem grande sucesso. Há dimensões impossíveis de atingir. Já me resignei e baixei os braços.
    Beijinho grande com grande estima e admiração.

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  3. Maria Flor...esperar...esperar e não poder dizer que não espera....
    O dizer que "não posso".... é difícil dizer "posso". Custa. Mas aprende-se! Sofre-se. Mas o dom da liberdade é inesgotavemente delicioso!!!

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  4. Numa das muitas leituras! Aliás, ninguém te obriga a tocar pianos desafinados!

    Beijo Maria!

    "A pessoa inteira é um actor, não um reactor. O
    colunista Sidney Harris conta uma história em que
    acompanhava um amigo à banca de jornais. O amigo cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas como
    retorno recebeu um tratamento rude e grosseiro. Pegando
    o jornal que foi atirado em sua direcção, o amigo
    de Harris sorriu polidamente e desejou um bom fim de
    semana ao jornaleiro. Quando os dois amigos desceram
    pela rua, o colunista perguntou:
    "Ele sempre te trata com tanta grosseria?"
    "Sim, infelizmente é sempre assim".
    "E você é sempre tão polido e amigável com
    ele?"
    "Sim, sou".
    "Por que você é tão educado, já que ele é tão
    indelicado com você?"
    "Porque não quero que e/e decida como eu devo
    agir".

    A implicação desse diálogo é que a pessoa inteira
    é "seu próprio dono", não se curva diante de qualquer
    vento que sopra; ela não está à mercê do mau humor,
    da mesquinharia, da impaciência e da raiva dos outros.

    Não são os ambientes que a transformam, mas.ela que
    transforma os ambientes."

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