Sei perfeitamente que o mundo não gira em volta do meu umbigo. Mas só eu sei como me senti, não tu, nem mais ninguém. Fizeste-me sentir mais pequena que o grão do pó que cobre as pedras da calçada, esventrada e de alma traída. Só eu sei, não tu, nem mais ninguém, como me senti perdida, para além de tonta, parva e ridícula.
Estarei confusa, demasiadamente envolvida, ou entranhada numa ideia peregrina que me levará a mente a uma loucura tardia? Talvez. Só assim justifico o quanto me firo na lança da desconfiança.
Mas como tu bem sabes, sou humana, tempero de mulher imperfeita com muito coração e muito sangue quente a correr na veia. Aqui não mora nenhuma ameixa negra seca, ao contrário de ti, quando te serves perante mim num ser frio, duro, quase a roçar ao corrosivo.
Deve ser por me saberes uma eterna romântica ou quiçá uma alma perdida, que de vez em quando o coração é-me sugado para te encher de vida, e sempre que me dou em doces prestações, tu abres a mão e matas-me de seguida.
Ela vive um afecto legítimo, mas é por ele que o seu coração morre todos os dias, a cada dia. Ele, o maldito, aquele do seu eterno desassossego, que nem a distância nem o tempo lhe cria desapego. Mas ainda assim, gosta de o ter e de o sentir por perto, mesmo sabendo que a matéria, jamais lhes será entregue.