Já lá vai algum tempo que as nossas conversas ao telefone não se prolongavam para além de cinco minutos. Também nunca havíamos simulado uma situação banal de combinar um local para nos encontrarmos dali a instantes para tomar um chá; como se Porto e Lisboa morassem mesmo ao lado uma da outra.
Pela
primeira vez, há muito tempo, voltei a sentir conforto e esperança nas tuas palavra. Senti-nos cúmplices
novamente, até o meu nome, proferido à tua boca naquele instante, me soou mais bonito. As palavras de simulação de situação real naturalmente transmitidas por ti em voz alta, foram sentidas como quem deseja saciar a sede do corpo, que se adivinha presente num futuro longínquo. Situação essa, que me deixou
muito admirada, face à tua constante resiliência relativa à nossa proximidade.
Há
muito tempo que não nos riamos, há muito tempo que não nos atrevíamos a olhar
para trás, há muito tempo que o nosso passado não era tocado. Pela primeira vez
em muito tempo o medo ficou de lado, em prol da tomada de consciência de nos
admitirmos no que nos somos e no que ainda nos possamos vir a ser.
Achei
deliciosa a tua actual convicção, de que um dia hás-de ver-me sentada no teu
colo para juntos olhar-mos o mar. Gargalhei espontaneamente, obviamente. Claro
está, não ponho de parte essa realidade, mas no dia em que isso aconteça,
estaremos os dois reféns da muleta. Acho até, que já te havia dito, que um dia nos
veremos a trilhar o rio em *"(...) Tempos de Cólera".
A minha imaginação ganhou asas e a bom rir projectei a imagem dessa nossa ventura
gloriosa. Tu, sentado, impacientemente a olhar para mim, e eu a tentar
fazer tiro ao equilíbrio para me sentar geometricamente no alvo do teu colo, sem precisar do apoio do andarilho. Enfim, foi uma risota que só
visto, mas tu, não te ralaste nem um bocadinho com tal futurologia.
O
importante, dizes tu, é que o nosso colo e o nosso assento se encaixem perfeitamente,
hoje, amanhã e sempre.
Só
precisamos de um instante de segundo para nos vivermos plenamente.