segunda-feira, 25 de abril de 2016

*Amor em Tempos de Cólera


Já lá vai algum tempo que as nossas conversas ao telefone não se prolongavam para além de cinco minutos. Também nunca havíamos simulado uma situação banal de combinar um local para nos encontrarmos dali a instantes para tomar um chá; como se Porto e Lisboa morassem mesmo ao lado uma da outra.
Pela primeira vez, há muito tempo, voltei a sentir conforto e esperança nas tuas palavra. Senti-nos cúmplices novamente, até o meu nome, proferido à tua boca naquele instante, me soou mais bonito. As palavras de simulação de situação real naturalmente transmitidas por ti em voz alta, foram sentidas como quem deseja saciar a sede do corpo, que se adivinha presente num futuro longínquo. Situação essa, que me deixou muito admirada, face à tua constante resiliência relativa à nossa proximidade.
Há muito tempo que não nos riamos, há muito tempo que não nos atrevíamos a olhar para trás, há muito tempo que o nosso passado não era tocado. Pela primeira vez em muito tempo o medo ficou de lado, em prol da tomada de consciência de nos admitirmos no que nos somos e no que ainda nos possamos vir a ser.
Achei deliciosa a tua actual convicção, de que um dia hás-de ver-me sentada no teu colo para juntos olhar-mos o mar. Gargalhei espontaneamente, obviamente. Claro está, não ponho de parte essa realidade, mas no dia em que isso aconteça, estaremos os dois reféns da muleta. Acho até, que já te havia dito, que um dia nos veremos a trilhar o rio em *"(...) Tempos de Cólera".
A minha imaginação ganhou asas e a bom rir projectei a imagem dessa nossa ventura gloriosa. Tu, sentado, impacientemente a olhar para mim, e eu a tentar fazer tiro ao equilíbrio para me sentar geometricamente no alvo do teu colo, sem precisar do apoio do andarilho. Enfim, foi uma risota que só visto, mas tu, não te ralaste nem um bocadinho com tal futurologia.
O importante, dizes tu, é que o nosso colo e o nosso assento se encaixem perfeitamente, hoje, amanhã e sempre.


Só precisamos de um instante de segundo para nos vivermos plenamente.

1 comentário:

  1. O amor é a arte da confiança que sonha o futuro a dois. A construção da reciprocidade é o que faz a história de cada amor. E a comunhão é um caminho que se faz a dois (são muitos trajetos Lisboa-Porto), às vezes, também com a ajuda de uma muleta ou de um andarilho :)
    Gostei muito do seu texto.

    Um beijinho, Maria Flor :)

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