sábado, 27 de janeiro de 2018

Renascer




O mundo é um ser vivo gigante e o universo um ente infinito. Duas unidades de grandeza admiráveis! Ela é um ser insignificante que desde tenra idade foi abandonada a si própria, no que respeita à figura dos afectos.
Cresceu de forma sã mas diferente. Ainda que de sorriso um pouco manco, conduziu a sua vida com postura hirta, alegre, bem-disposta e crítica, usando sempre como voz de comando a razão e a lógica, onde mantinha o coração reservado em local não identificado até para si mesma. 
Nunca permitiu grandes aproximações emocionais, apesar de ter tido namoricos e namoros no período da adolescência, porém a falta de afecto e de carinho desde o berço, tornou-a num ser vulnerável e inapto quando o seu coração foi posto a descoberto pelo Amor. Deu o melhor de si a um amor que nunca lhe foi franco, verdeiro e genuíno, mas ainda assim, os mecanismos de defesa, a voz de comando e o priorizar das tarefas e obrigações, sempre presentes no seu carril, fizeram-na seguir em frente consciente daquela realidade, até porque a dor já é calo que não dói, até porque o amor nunca lhe foi um afecto assistido, e até porque os outros estiveram sempre em primeiro lugar. 
Mas como nem sempre, nem nunca, algo a fez despertar para outro grau de consciência. Resgatar o seu ser sensitivo e redefinir objetivos de vida é imperativo e vital para si. 
Vive em comunidade mas sabe-se só, vê-se como uma ilha isolada no meio do mar revolto, sem qualquer possibilidade de resgate ou de fuga como ultimo reduto de sobrevivência, e o mundo continua a ser um ser vivo gigante, o universo um ente infinito, e ela um ser insignificante. No entanto, estas duas unidades de grandeza admiravelmente belas parecem-lhe exíguas face ao vazio imenso que permitiu que se parisse nas suas entranhas mais profundas. Chegou ao fim da linha de uma rota de vida que não quer mais.
Tomar atitudes precipitadas não fazem parte da sua conduta racional, que terá que usar sabiamente em prol do coração e de outros valores igualmente importantes para si.
Dizer não, dizer basta, ser egoísta, colocar-se em primeiro lugar; sabe que é por aí que tem que esbravear caminho para voltar a nascer de si mesma, sozinha ou acompanhada.
O caminho é longo e doloroso, mas no fim, sabe que vai sorrir de forma franca, com ou sem amor no coração para dar.

Já eu, do lado oposto da mesma encosta, não interfiro com o seu lado racional, se bem que ela poderia aliviar a carga se apanhasse o @lfa e fosse aí ter contigo. Mas sei que ela não fará esse desvio.







5 comentários:

  1. Não sei até que ponto as obrigações e a razão devem ficar sempre atrás do coração. Um dia é tarde de mais...
    Beijos Maria Flor

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  2. Olá Maria.
    Tão bom ver-te por aqui... :)

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  3. Ao longo da vida do Patife, os melhores momentos ocorreram precisamente nos pequenos desvios ao que estava traçado. ;)

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  4. A Vida, cria-nos motivações ...
    A Vida, cria-nos desmotivações ...
    A Vida, dá-nos Objectivos ...
    A Vida, dá-nos desmotivações ...

    E por entre estes predicados e outros ....
    Vamos vivendo aos "S"'s ...

    Por vezes paramos ...
    Mas não é essa a nossa natureza ...
    E seguimos novamente em frente !
    Ou para a direita ... ou para a esquerda ...
    Mas seguimos.

    E nunca voltamos a ser totalmente iguais à sombra que deixamos lá atrás ...

    Espero que tenhas encontrado o teu "porto de abrigo", Maria.

    Um sincero abraço

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