Gostei muito de te ouvir, após todo este tempo de silêncio agudo compulsivamente entreposto. E tu bem sabes o quanto gosto de te ouvir e sentir...
Caramba, como tenho
sentido a tua falta...Fazes-me tanta falta. Sinto falta do teu colo, não só para me aconchegar, mas também para
me ouvir e aconselhar. Acompanhaste-me sempre nos momentos mais difíceis, mas o vazio fintou-nos e encheu-nos o copo neste último acontecido, e olha que me tem custado o diabo esta caminhada solitária.
Para além disso, cresce sempre dentro de mim, aquela imensa saudade de ti, que me tem deixado de alma prostrada e de olhar perdido para lá do infinito.
Como vês nada de novo...Apesar dos pesares, continuas a ser o meu melhor momento, e o mais curioso é que que continuas a ser o melhor amigo do meu...
Gostava de poder dizer que não existes, que és fruto da minha fértil imaginação, mas não posso.
Gostava de poder dizer que não te conheço, que nunca atravessaste o meu caminho afectivo, mas não posso.
Gostava até de poder dizer que não te penso, que não sinto a tua falta, nem que não te tenho entranhado na veia do meu desassossego, mas não posso.
Gosta de ter todo esse poder, mas ainda não consegui atingir o auge desse momento áureo, o de te fazer passar à história na minha sádica memória, como se tivesse sido abatida por um ataque de amnésia vitalício.
Agora digo-te, se eu fosse dona do meu sentir, há muito que te tinha banido do meu artefacto bicho-do-mato. Lamentavelmente esse meu feito permanece adiado por tempo indeterminado.
Para mal do meus pecados, continuo a ficar irada e destemperada quando me ignoras por vingança e retaliação, principalmente quando sei que estás mesmo ali, disponível, para o demais "inferno feminino".
Tantas me hás-de fazer que um dia vens e eu já estou bem longe, a anos luz de ti.
Sabes meu querido, há pianos de cauda muito bonitos, mas quando desafinados, já não valem a pena serem tocados.
“Quero saber onde me queres levar”, questionas-me tu sobre as minhas
intenções, sem te inibires das tuas constantes“acusações”
que me apontam o dedo, como sendo eu eximia jogadora, no Jogo que denominas de Perigoso.
Ter-te-ei
dito em tempo ido que sou o reflexo do teu espelho, ou uma mera aprendiza de um
excelente feiticeiro, tu. Se reparares, sou-te aquilo que de igual forma me és,
ou pelo menos, é assim que te vejo, ou melhor, é assim que nos vejo, neste
duelo insano que travamos há anos e a que o teu alter-ego agora denomina de Jogo
Perigoso.
Ora damos
um passo em frente, ora recuamos dois passos atrás, em jeito de ritual de acasalamento animal,
onde o papel de presa e de predador é desempenhado de forma alternada, para
que nunca nenhum dos dois se veja vergado e abocanhado à mercê do outro. Mas essa realidade ficcionada
resulta do dom ou da desgraça da palavra que nos mantém de mente cativa levando-nos
de quando em vez a fechar os olhos, a baixar a guarda, e a desnudar a pele da
alma em (in)confidências. Como vês, até aqui nada de novo…
Efectivamente, o cerne da questão
prende-se com as constantes
investidas e recuos, a que recorremos para esconder a nossa “fragilidade” umdo outro. Mas tenho para
mim que tais contra medidassão encetadas
com vista a perpetuar no tempo este nosso apego intenso projectado no mistério
do desconhecido que nos tolhe o discernimento dos sentidos. Acontece que o medo que nos é legítimo, ou melhor, a nossa
consciência de perigo, afinca o nosso instinto de sobrevivência sempre que a
escalada apoiada nas estrelas eleva a fasquia. Como vês, essa tua teoria do
jogo perigoso, não deixa de ser uma negação à travessia do abismo e à do
desembrulhar da ilusão, em prol de preservação da nossa zona de conforto sem risco de
colisão. Essa sim é que é a verdadeira questão, o querer ter o poder do céu na
mão sem correr o risco de tirar o pé do chão. Missão Impossível, eu sei.
Essa tamanha dimensão já não está ao alcance da nossa razão. Pergunta-me agora
onde te quero levar? Respondo-te de forma simples e directa. Eu não te quero
levar a lado nenhum, até porque “o onde” não
é relevante neste contexto de impossibilidade. Já nos conhecemos há anos, já
nos ferimos e já nos magoamos, mas ainda assim, sei que somos, e sei que continuaremos
a ser o Calcanhar de Aquiles um do outro, e não te desiludas, até porque que as
cartas de amor mais bonitas que redigi foram as que escrevi para ti.
Já
lá vai algum tempo que as nossas conversas ao telefone não se prolongavam para
além de cinco minutos. Também nunca havíamos simulado uma situação banal de
combinar um local para nos encontrarmos dali a instantes para tomar um chá; como
se Porto e Lisboa morassem mesmo ao lado uma da outra.
Pela
primeira vez, há muito tempo, voltei a sentir conforto e esperança nas tuas palavra. Senti-nos cúmplices
novamente, até o meu nome, proferido à tua boca naquele instante, me soou mais bonito. As palavras de simulação de situação real naturalmente transmitidas por ti em voz alta, foram sentidas como quem deseja saciar a sede do corpo, que se adivinha presente num futuro longínquo. Situação essa, que me deixou
muito admirada, face à tua constante resiliência relativa à nossa proximidade.
Há
muito tempo que não nos riamos, há muito tempo que não nos atrevíamos a olhar
para trás, há muito tempo que o nosso passado não era tocado. Pela primeira vez
em muito tempo o medo ficou de lado, em prol da tomada de consciência de nos
admitirmos no que nos somos e no que ainda nos possamos vir a ser.
Achei
deliciosa a tua actual convicção, de que um dia hás-de ver-me sentada no teu
colo para juntos olhar-mos o mar. Gargalhei espontaneamente, obviamente. Claro
está, não ponho de parte essa realidade, mas no dia em que isso aconteça,
estaremos os dois reféns da muleta. Acho até, que já te havia dito, que um dia nos
veremos a trilhar o rio em *"(...) Tempos de Cólera".
A minha imaginação ganhou asas e a bom rir projectei a imagem dessa nossa ventura
gloriosa. Tu, sentado, impacientemente a olhar para mim, e eu a tentar
fazer tiro ao equilíbrio para me sentar geometricamente no alvo do teu colo, sem precisar do apoio do andarilho. Enfim, foi uma risota que só
visto, mas tu, não te ralaste nem um bocadinho com tal futurologia.
O
importante, dizes tu, é que o nosso colo e o nosso assento se encaixem perfeitamente,
hoje, amanhã e sempre.
Só
precisamos de um instante de segundo para nos vivermos plenamente.
Como é possível o nosso sentir só se tocar nos limites extremos do amor e do ódio?!
O problema que reside nas nossas diferenças, é que, enquanto tu absorves a ânsia do mundo com os olhos abertos, eu aprecio-lhe a essência na minha cegueira.
Gostava de poder sussurrar-te ao ouvido o quanto gosto de ti (mas eu sei,
que isso tu sabes), até me atrevia a sussurrar-te com toda a minha doçura o
quanto te amo, o quanto te desejo e o quanto te quero entranhado no ventre da
minha pele, até porque, os maus momentos, em confidência, vamos
partilhando mutuamente.
Acontece que essa revelação seria da minha parte um gesto de afecto
suicida, na medida que duvidarias da genuinidade do meu sentir, zombarias e me
feririas logo de seguida.
Ainda que te escreva estas linhas, na mudez do meu coração, elas para ti, são
o que são, meras palavras alinhadas numa frase pomposa com o propósito de
captar a tua exclusiva atenção, uma vez que as palavras, como tu dizes, são meras
metáforas bem engendradas que o vento leva ao esquecimento em breves sopros de
primavera.
Resumindo e baralhando, estamos precisados de passar à etapa seguinte, e
partilhar os bons momentos que ainda nos possam vir a ser proporcionados. Caso
contrário, estaremos sempre condenados ao castigo da espera eterna, e às
(in)confidências continuadas.
Encontrei-te perdido numa noite fria e escura. Estendi-te a mão, acolhi-te, e dei-te o meu sorriso mais bonito. Há muito que partiste. Há muito que te aconcheguei num sonho profundo. Mas sabes? Nunca me senti triste. Sei que levaste contigo o brilho do meu olhar para iluminar o teu mundo. Sabes? Amar também é deixar Alguém partir, para ir ali, ser feliz.