quinta-feira, 18 de maio de 2017

Viagem


“No início, as conversas eram ligeiras e circunstanciais, assim como os nossos encontros eram dispersos e ocasionais”. Lembraste desses tempos, quando falávamos dos sumos de limão que bebíamos em jejum, na primeira hora da aurora, e das trocas dos nossos relatos opinativos sobre artefactos museológicos que contemplávamos das nossas visitas a exposições temáticas? De lá a esta parte, já se passaram pelo menos meia dúzia de anos, não?!
Já sei, estou a desviar-me do assunto. Já sei, sou uma peste e tudo isso…Sei que estou em falta contigo, já sei. Fiquei de te devolver correspondência, e não o fiz! Mas olha, não foi por falta de vontade, ou de oportunidade. Simplesmente não quis deixar o teu coração em cuidado em vésperas da tua ida, mais uma vez, para terras além-mar. Se te falasse, irias ler nas minhas falas, um estado de apreensão e de preocupação; achei então por bem remeter-me ao silêncio. Bem sabes que quando me escondo por detrás da carapaça, não respondo a estímulo nenhum provocado do exterior. Ai se soubesses, o impacto que o teu último poema teve, sobre mim! 
"(...)
Cega é a ausência do teu toque
E negra a distância que nos separa."
E o que me custou mostrar-me indiferente ao teu desnudar da alma…Toda eu, me desfiz em lágrimas no travesseiro da madrugada, quando o sono tomou de assalto as gentes da minha morada.
Mas de nada me adianta agora chorar sobre o leite derramado. Mais uma vez, sei que estou fora de tempo. Mas olha, não te preocupes, agora sei que está tudo bem comigo. Já diz o velho ditado, que após a tempestade vem a bonança, e, aqui estou eu a dar sinal de mim, quando te sei longe, incomunicável, e irado comigo…Mas não faz mal, eu relevo-me por ti, faço a festa, lanço os foguetes e apanho as canas.
No meio de tantos desencontros e de mais um silêncio interposto, sabes o que me conforta? É saber-te do outro lado do mundo, com a melhor metade de mim, aí, contigo. É nesta espera eterna e constante, de saudade dolorosa, que me alimento de ti, que te vivo e que te respiro. É nesta dor que te sei só meu e que perpétuo o meu amor mais puro e genuíno.
Pois então, cá estou eu, mais uma vez a rezar um monólogo. Mas de facto tal facto resume-se ao princípio da contradição, que tem sobre mim o maravilhoso efeito terapêutico de purga afectiva.
Resumido e baralhando, até ao teu regresso, pouco ou nada mais me resta, senão falar-me de ti, e de ti, e de ti...

2 comentários:

  1. Há imagens que marcam, definitivamente. Contudo, para lá dos cenários que teimamos em circunscrever, a vida jorra, lá fora, qual égua louca, à espera de quem a agarre, de quem a saiba, e queira, cavalgar.

    Um beijinho :)

    http://ac-wwwinterioridade.blogspot.pt/

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    1. Olá AC, bem vindo ao meu esconderijo :)
      Gosto muito de o ler e de me deixar sobrevoar nas asas da sua poesia e do seu mundo.
      Bem Haja.
      Beijinho com estima e amizade.

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